Líder do Podemos no Senado, presidenciável com destaque nas eleições de 2018, senador pelo quarto mandato, ex-governador do Paraná, Alvaro Dias tem histórico de oposição aos governos de esquerda, mas não deixa de se posicionar fortemente com as atitudes do presidente Jair Bolsonaro.
Sob pandemia, o senador observa que a união de esforços apresentaria uma nova realidade ao Brasil neste momento, afirmando que há ausência de competência na Presidência da República. Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, o parlamentar disse que Bolsonaro “é um simulacro de líder”, que está isolado e não possui força para um Golpe de Estado.
No cenário catarinense, embora o Podemos tenha investido na defesa do deputado federal Rodrigo Coelho, evitou comentar sobre a derrota no TSE. Ainda, disse que estava construindo um partido como ferramenta política à disposição da sociedade, mas que agora o momento recomenda prudência e desprendimento. Confira:
Marcos
Schettini: O que
deve ser feito, na prática, para evitar um colapso nacional do
Sistema
de Saúde atacado pelo coronavírus?
Alvaro
Dias: A única alternativa
comprovadamente positiva é o isolamento social. O sucesso dessa
providência depende de comando e conjugação de esforços.
Falta-nos na Presidência
da República
liderança para coordenar o processo, estabelecendo necessária
integração administrativa entre união, estados e municípios. Se
isso fosse realidade os resultados seriam outros.
Schettini:
O Senado
deve aprovar a PEC do chamado orçamento de guerra. O que deve ser
feito com estes recursos?
Alvaro
Dias: Estamos
avaliando alguns dispositivos que preocupam. O art. 10, por exemplo,
autoriza o BC adquirir títulos dos bancos. Qual e o objetivo?
Garantir na crise o lucro dos banqueiros que tiveram no ano passado
fantástico e histórico resultado de mais de cem bilhões? É
evidente que queremos oferecer os instrumentos jurídicos necessários
para que o governo possa irrigar a economia, mas que se faça com
cuidado a leitura correta das prioridades.
Schettini:
O ministro Mandetta tem sido alvo de ataques fortes dos
bolsonaristas. Por que esta ala faz política com o
coronavírus?
Alvaro
Dias: A ausência de um líder
competente na Presidência
estimula o fogo amigo. A fogueira das vaidades arde forte e coloca os
interesses mesquinhos dos que competem para assumir protagonismo
egoísta acima da
vida de milhares de pessoas. Em relação a essa tragédia não há
solução. Afinal, liderança
não é um produto que se adquire em supermercado.
Schettini: A
popularidade do presidente tem caído dia a dia. O que vai
ocorrer?
Alvaro
Dias: Teremos
até o fim um governo nervoso, inseguro, incompetente, contraditório,
que faz opção pelo espetáculo. O governo desperdiçou
oportunidades no ano passado e não avançou nas reformas. Agora, o
itinerário é
mais tortuoso e o comando em mãos
claudicantes dificulta nossos passos futuros. O Legislativo
terá que ser mais eficiente, colaborar para evitar o pior.
Schettini: O
senhor
acredita que o presidente possa dar um Golpe de Estado e fechar o
Congresso e STF?
Alvaro
Dias: O presidente é
hoje um simulacro de líder. Isolado e sem força. Não há risco de
golpe.
Schettini: Ao
afrontar as orientações e diretrizes da OMS e cientistas, o
presidente corre qual risco?
Alvaro
Dias: O risco histórico inapagável de
ser responsabilizado pelos cadáveres inevitáveis.
Schettini:
O Fundo Partidário pode ser
destinado
no combate ao coronavírus. O TSE não deveria fazer o mesmo e trocar
a data da eleição?
Alvaro
Dias: Embora
diante da magnitude dos números dessa crise histórica seja uma gota
no oceano, é lúcido extinguir temporariamente o fundo eleitoral e
usar esses R$ 2
bilhões no combate a pandemia. Mesmo que as eleições não sejam
adiadas.
Schettini:
O senhor
é a favor de eleições unificadas?
Alvaro
Dias: Admito esse debate e simpatizo
com a tese como solução estimulada pela crise que legara vários
anos de dificuldades.
Schettini:
Qual é sua participação nas
eleições de 2022?
Alvaro
Dias: O tempo dirá. Agora as
preocupações são impostas pela urgência da crise. Estávamos com
entusiasmo construindo um partido com o sonho de vê-lo
como ferramenta política à
disposição do povo na luta por mudanças indispensáveis. Fomos
parados pelo coronavírus e o que se recomenda agora é prudência e
desprendimento.
Schettini:
O Podemos tem apoiado iniciativas do
Governo
Federal.
Pode haver um rompimento
Alvaro
Dias: Apoiamos sempre o que é bom para
o país. Mas somos independentes. Estamos distantes do governo. Não
participamos do balcão de negócios que continua de pé. O toma lá
dá cá não foi sepultado. O
presidente se esforça para demonstrar valentia diante da população,
mas se entrega aos acertos das madrugadas da política.
Não compactuamos com isso e queremos distância. Mas continuaremos a
apoiar bons projetos e iniciativas administrativas que beneficiem
nosso povo, sem barganhas.
Schettini:
Paulinho Bornhausen tem quais
desafios para o Podemos em SC?
Alvaro
Dias: Está enfrentando o desafio da
construção partidária com competência. O Podemos em SC será uma
máquina lubrificada por ideais republicanos e oferecerá,
certamente, contribuição importante na briga por mudanças no
Brasil. Estamos botando fé e apostando no projeto liderado pelo
Paulinho.
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